1)
A política de contratações do Sporting, até ao
momento, foi… estranha. Pode-se questionar muita coisa: a primeiro, por
exemplo, passa pelos avançados: como é que se contratam 3 homens de ataque,
quando há na Equipa B dois avançados de qualidade, que já jogaram ambos pela
equipa principal, e que fizeram uma boa temporada na Equipa B? Ainda por cima em «contenção de custos»... Faz sentido um
jogador que renova até 2018, com uma cláusula de 60 milhões de euros, ter (pelo
menos) três opções á sua frente no plantel? Não faz. O Sporting precisava de
contratar um homem de ataque (Montero), e até me parece que acertou. Depois,
contratou mais 2. Tenho sérias dúvidas que tenham mais talento e até capacidade
que o Diego Rúbio (não digo o Betinho porque realmente precisa de jogar, e com
o Montero teria dificuldades), mas veremos com o decorrer da temporada. A única
coisa que ainda me dá algumas esperanças quanto a pelo menos um deles (Slimani)
é a impressão de que foi recomendado por Jesualdo…
Outra contratação estranha foi o brasileiro
Gerson Magrão. O Sporting tem tantas soluções para o meio-campo que mais uma só
seria necessária caso fosse um acrescento indiscutível de criatividade ao
sector. Assim, é um jogador que vai tapar Chaby (é a médio-centro/8.5 que
melhor joga, e arriscaria as fichas todas em como vai ter uma carreira 10 vezes
melhor que a do brasileiro) e, já agora, que vai também tapar o rapaz com quem
o Sporting acaba de renovar até 2019 (com uma cláusula de rescisão de 45
milhões), o português Kikas, de 22 anos. Não falo em Zezinho nem em Stojanovic porque não terão capacidade, neste momento, para tal (mas o Magrão terá?). Mais um fenómeno… estranho.
Há também que notar uma coisa: o Sporting
decidiu partir para a época com 3 laterais. Se Jefferson parece ter qualidades
que justificam a aquisição, e se Cédric parece que vai ser uma aposta muito
forte de Leonardo Jardim, sobra um lugar. Quem é que faria sentido o Sporting
garantir? Eu recordo-me de vários, de cabeça, para um lado e para o outro. Por
exemplo, Joãozinho, que até já por cá estava. Será um jogador menos capaz, útil e
caro que Welder? Tenho muitas dúvidas… tal como tenho muitas dúvidas que
a direita precisasse de ser mais reforçada que a esquerda (mas isso são outras
contas). Pode ser que a prospecção resulte...
Por último, quanto às contratações, o
sector dos centrais. Maurício foi adquirido, e por enquanto até está a dar
conta do recado, mas cheira-me que não é muito melhor que um tal de Xandão…
quando se exigir mais aos centrais do Sporting, ofensivamente, durante a
temporada, tenho muitas dúvidas que Maurício seja suficiente. Temo que voltemos
a ter os mesmos problemas que tínhamos com Domingos (alguém se esquece da forma
como os adversários “largavam” os centrais para os convidar a construir…?
Pois). O parceiro que tem (Rojo) também não dá confiança nenhuma. Quando
chegou, vi qualidades no argentino. Mais tarde, vi melhor (porque outros, a
quem estou como em outras coisas bastante grato, me alertaram) e percebi falhas
clamorosas. Pareceu-me que entretanto melhorou mas que já voltou a piorar outra
vez. Sendo um jogador com algum mercado e ganhando presumivelmente um ordenado
bem razoável, se surgissem algumas propostas (mesmo que modestas) talvez fosse
de vender. Libertavam-se fundos para renovar com o Ilori e preenchia-se mais um
lugar com o Nuno Reis.
Porém, tenham cuidado: aqueles que
apelidavam todas as contratações de «Freitadas» e os dirigentes de
«comissionistas» escandalizam-se hoje com meras questões. O meu benefício da dúvida
aos jogadores existe sempre (as dúvidas podem ou não existir, depende do que
pensar). Quanto aos dirigentes, também, por mais que exprima a minha
incompreensão e perplexidade. No mais, como diria um excelente sportinguistas,
«a opinião não joga à bola» (felizmente).
2)
Outro tema de que quero falar: William Carvalho. Eu
acho que tem qualidade. Acho que tem também algum potencial (pode evoluir
ligeiramente). E pode-se tornar a médio prazo um jogador razoavelmente forte.
Agora, tem-se exagerado muito. Em discussão com o Filipe
Vieira de Sá, do Jogo Directo (cujo regresso saúdo!), sugeria-lhe a opção do
William como central. É verdade que não é muito rápido (também não o é para
trinco), mas com bola é um jogador que provavelmente teria um efeito mais
positivo para o Sporting do que o Maurício e o Rojo. De qualquer forma, mesmo
que só se veja o William como médio-defensivo, não compreendo como pode partir
a titular. Compreendo que os adeptos gostem dele (afinal, é alto e forte).
Estranho que o Jardim o ache bom por ser alto e forte (ter dado a titularidade
inicialmente ao Djamal, que depois perdeu o lugar para o Custódio, deve ter
dado para tirar conclusões). Pôr o Rinaudo a jogar bem não é um desafio
propriamente hercúleo para nenhum treinador (ao contrário do que se faz crer).
E quando para aquele lugar há também André Santos (tem uma forma de jogar algo
próxima da do William, mas com bem mais qualidade) e João Mário (que nos juniores
jogava como médio-defensivo atrás da dupla João Carlos-Chaby, e que era aí que
punha melhor em prática a sua sobriedade, simplicidade de processos, acerto e
leitura de jogo; e que já não evolui mais jogando na Equipa B), faria sentido
emprestar o William Carvalho. Talvez o Marítimo de Pedro Martins (foi agora
buscar o Danilo Pereira, que é bem pior que o William) ou o Paços de Costinha
(joga com o Rodrigo António, a quem o William daria muita luta) fossem boas
opções para o jogador se desenvolver, porque precisa efectivamente de jogar e
lidar com a realidade da Liga Portuguesa. Além disso, actuaria numa equipa que
jogará para a primeira metade da tabela, valorizando também.
3)
Sobre os guarda-redes, penso que Cássio (que tem
sido falado) seria uma excelente opção. Acho que o Boeck joga muito mais que
isto (tem estado para lá de mau), mas mesmo o melhor Boeck é pior que o melhor
Cássio. Seja para emprestar o Marcelo a uma equipa onde possa jogar (é suplente
há dois anos), seja para discutir com ele a titularidade (penso que acabaria
também por a ganhar), era uma boa solução. O melhor para o Sporting era mesmo
manter o Patrício, emprestar o Boeck a um clube que lhe pagasse os salários e
onde ele pudesse jogar, e garantirmos o Cássio a “custo zero”. Ficávamos com
duas excelentes opções. Aliás, digo mais, mesmo que não venha ninguém, não me
escandalizaria se o Marcelo fosse emprestado.
4)
A penúltima nota é sobre o ataque. Acho que o
Montero se vai afirmar, e mais depressa do que se julga. Isso não significa que
vá ser brilhante, mas considerando os actuais pontas-de-lança do Braga, do
Marítimo, do Paços, do Estoril e do Rio-Ave, e considerando os objectivos do
Sporting (3º lugar, ainda que se a equipa ficar em 4º provavelmente Jardim se
mantenha), não será por aí que falharemos rotundamente este ano. Se o Sporting
tiver bons momentos no ataque, em cada jogo, não será por aí (tivemos com o
Braga, o Montero falhou, na maioria dos outros jogos marcará, creio… e se não
marcar ele marca outro qualquer). Para as alas é que está bem curto. Assumindo
que Bruma não renovará, Jardim tem que dar toda a confiança a Carrillo (como
está a fazer). É nele, e não em mais ninguém, que todas as fichas têm de estar
apontadas, para aqueles lugares no ataque. Wilson (embora voluntarioso), Capel
(quando veio do Sevilla parecia que ou melhoraria e seria um caso sério, ou se
afundava fortemente… e afundou), Magrão (se jogar ali…) e Salomão não são
soluções realmente fortes. Só o peruano é capaz de responder como um “jogador
grande” dentro do leque existente… oxalá responda. Ainda sobre isto, estranho
como não se chama o Iuri Medeiros, da Equipa B. Seja para jogar a extremo
(desde que não o colem na linha), seja para jogar como segundo avançado, é uma
óptima solução – tirando Carrillo, a melhor que o Sporting tem, para os dois
lugares. Até Esgaio talvez desse mais rendimento que o actual leque de
extremos. Agora, só entrará mais um caso Capel seja vendido. Era muito bom que
assim fosse, e que viesse o Iuri (ou outro com a qualidade do
açoreano... gosto da formação como gosto de futebol).
5)
Sobre o comportamento da pré-época, a ideia que
fiquei foi que a equipa esteve horrível com o West Ham (não me chocou perder os
duelos físicos, chocou-me a equipa ser incapaz de fazer três passes
consecutivos quando tinha a bola no chão… e também me chocou o facto dos
jogadores estarem todos longe uns dos outros, completamente estendidos no
campo) e melhorou com o Braga (os defeitos do jogo com o West Ham, aqueles que
critiquei, entenda-se, foram precisamente os mesmos do jogo com o Braga, mas a
uma escala muito menor). Há, ainda, um caminho a percorrer – não sei se é longo
ou curto, sei que a evolução é necessária (não me parece, ainda assim, que
estejamos num patamar muito inferior à dos nossos principais adversários deste
ano). E há que, individualmente, melhorar as soluções para o centro da defesa
(são necessárias duas opções muito fortes, a não ser que Rojo se transfigure…
Eric e Ilori seriam obviamente as melhores opções), para o ataque (onde há que
garantir pelo menos mais uma opção francamente talentosa, rezando para que as
outras duas cumpram). De qualquer forma, as notas sobre a performance da equipa
são apenas meras impressões. No Jogo Directo perceberão algumas coisas que de
certeza absoluta que vos escaparam… e no Lateral-Esquerdo ficarão com uma “big Picture”
excepcional daquilo que foi a forma da equipa jogar, recentemente.